A Fadinha no Jardim

Uma História de Luz e Redescoberta

Karolyne S. Alves

9/18/20243 min read

                 Era uma vez uma pequena mudinha, tão delicada que parecia quase invisível aos olhos de quem passava. Ela tinha uma missão importante: encontrar o lugar certo para crescer, florescer e, com isso, manter sua espécie viva no jardim. Eu era a responsável por essa tarefa — e embora parecesse simples à primeira vista, logo descobri que não seria nada fácil.

     Eu tinha um trenzinho em miniatura que carregava todos os vasos, pedras e enfeites do jardim. Ele percorria o espaço lentamente, mostrando os possíveis lugares onde a pequena folhinha poderia ser plantada. Havia muitos vasos, terrenos secos, plantas que lutavam por espaço, e outros lugares onde, claramente, não seria possível plantar algo tão frágil. O jardim estava cheio, e parecia que nenhum lugar estava disposto a receber aquela nova vida.

         Mas, antes de desistir, algo me chamou a atenção: um vaso verde, à primeira vista inundado de água, mas com um pequeno espaço no centro, onde a terra parecia fértil. Parecia promissor. E então, plantei a pequena mudinha, acreditando que ela finalmente encontraria o lugar certo para crescer.

           Dias depois, passei pelo vaso novamente e, para minha surpresa, a mudinha não estava mais lá. No seu lugar, havia uma pequena fadinha, envolta em suas asas delicadas, mas... afogada na água. Ela não pedia ajuda, simplesmente aceitava o seu destino. Parecia acostumada a ser ignorada. Senti um aperto no peito ao vê-la assim, tão pequena e sozinha, e sem pensar duas vezes, a resgatei da água. Agora, ela estava comigo.

      Levei-a para minha casa, buscando um lugar onde pudesse ficar em segurança. Foi então que a observadora dentro de mim se fez presente. Naquela casa viviam duas mulheres. Uma delas olhava para a fadinha com desgosto, sem entender sua presença. A outra, com um misto de pena, mas sem ação. E assim, a fadinha continuava invisível para ambas.

         Ela, silenciosa e paciente, já estava acostumada com a indiferença. Sabia que sua luz ainda não era reconhecida, mas também sabia que cada coisa tem seu tempo. A paciência era seu refúgio, mesmo que a tristeza a acompanhasse. Ainda assim, ela acreditava que, um dia, seria vista.

           E o tempo passou. As duas mulheres, perdidas em seus próprios desgostos, finalmente se viram sem escolha a não ser prestar atenção na pequena criatura que, até então, ignoravam. Aproximaram-se dela, mas ao fazer isso, algo inesperado aconteceu: o chão sob os pés das mulheres desabou. Elas não caíram, mas se viram flutuando em uma imensidão escura, onde não havia chão, paredes, nem sequer a visão de si mesmas.

             Por um momento, havia apenas o vazio.

           Então, de repente, uma luz começou a brilhar entre elas. Era a fadinha, que surgia de dentro daquela escuridão, trazendo consigo uma luz suave, mas intensa. As mulheres, boquiabertas, observaram como essa luz revelava algo que até então não viam: na escuridão, todas elas — a fadinha e as duas mulheres — eram do mesmo tamanho. Eram semelhantes. As diferenças que as separavam antes haviam desaparecido. E, mais surpreendente ainda, a luz da fadinha não apenas iluminava o espaço ao seu redor, mas também fazia com que uma luz oculta dentro de cada uma delas começasse a brilhar.

         As mulheres se olharam, agora enxergando algo que nunca haviam visto antes: elas eram parte da mesma essência, da mesma luz. A fadinha, com sua pequena e poderosa presença, revelou a verdade que estava adormecida dentro delas — que só na união, no reconhecimento mútuo, suas verdadeiras essências poderiam florescer.

             "Nós sempre fomos semelhantes", disse a fadinha. "Mas, por muito tempo, vocês não puderam perceber pois estavam tão cheias de outras coisas da vida... foi quando acessaram o vazio, que puderam abrir espaço para esse Encontro."

          E naquele momento, ficou claro: o que elas buscavam em si mesmas, a aceitação, a compreensão, o reconhecimento, só poderia emergir quando se permitissem brilhar juntas. A fadinha, antes ignorada, agora ajudou a iluminar a jornada de cada uma delas.